O Que é Arrependimento na Bíblia?
O arrependimento é uma mudança radical de pensamento, atitude e direção. A doutrina do arrependimento é parte fundamental da
Fé Cristã, pois é condição essencial para a salvação.
Na Bíblia, a palavra “
arrependimento” traduz diferentes termos hebraicos e gregos. Assim, ela possui diferentes significados e aplicações. No Antigo Testamento, destacam-se dois termos que são traduzidos como “
arrepender-se” ou “
arrependimento”.
O primeiro vem da raiz hebraica naham e significa uma mudança de ideia, uma mudança de propósito ou uma lamentação. Raramente esse termo é aplicado aos homens, sendo mais comum sua aplicação relacionada a Deus (Gênesis 6:6,7; Êxodo 32:14; Juízes 2:18; etc.).
Neste caso, a palavra arrependimento é utilizada para expressar uma mudança na relação de Deus para com os homens, e não numa alteração do próprio Ser de Deus, visto que Ele é imutável.
O segundo termo hebraico utilizado no Antigo Testamento vem do verbo shuv que significa “
girar”, “
retornar” ou “
converter”. Esse termo é o mais utilizado para indicar o arrependimento humano. Por vezes ele indica a ideia de “
tornar do pecado para Deus”, isto é, voltar-se ao Senhor de todo coração (2 Reis 17:13; 2 Crônicas 6:26; Isaías 55:7).
No Novo Testamento, a palavra “
arrependimento” traduz principalmente o termo grego metanoia e seu verbo coligado. Esse termo significa uma “mudança de pensamento”, “
mudança de convicção”. Normalmente quando esse termo é aplicado no Novo Testamento, ele indica um convite para que os homens se convertam de seus pecados, mudando radicalmente suas convicções e atitudes, e tornando-se para Deus.
O convite ao arrependimento na BíbliaA Bíblia ensina de forma muito clara sobre a importância do arrependimento para a salvação. Os profetas do Antigo Testamento insistentemente conclamaram o povo de Israel a voltar-se para Deus (ex., Isaías 30:15; Jeremias 23:22; Ezequiel 14:6; Oséias 11:5; Zacarias 1:3-6).
No Novo Testamento, o chamado ao arrependimento aparece como parte fundamental da mensagem proclamada. O profeta João Batista aparece com proeminência pregando sobre a necessidade do arrependimento (Mateus 3:2). Jesus deu continuidade à mensagem de João Batista (Mateus 4:17), e o arrependimento também teve parte fundamental na pregação dos discípulos (Marcos 6:12). Depois, Jesus declarou que em seu nome o arrependimento para perdão de pecados deveria ser pregado a todas as nações (Lucas 24:47).
A pregação sobre a necessidade do arrependimento também marcou o início da Igreja Cristã. O arrependimento foi o tema da pregação do apóstolo Pedro no dia de Pentecostes (Atos 2:38). O apóstolo Paulo pregou sobre o arrependimento aos gentios (Atos 17:30; 26:20). No livro do Apocalipse, cinco das sete igrejas da Ásia Menor receberam de Cristo uma importante mensagem sobre a necessidade do arrependimento (Apocalipse 2:5-22; 3:3,19).
Realmente a Bíblia não deixa dúvida de que o arrependimento é uma condição necessária para a salvação. Isso significa que sem arrependimento não há salvação. Sob esse aspecto, o arrependimento aparece diretamente ligado à fé.
Os tipos de arrependimentoNormalmente o estudo teológico faz uma distinção entre dois tipos de arrependimento: atrição e contrição. O primeiro, atrição, é um tipo de lamentação superficial acerca do pecado, especialmente com relação a sua punição. Esse tipo de arrependimento não resulta no abandono do pecado, e nem mesmo na súplica pelo
perdão de Deus.
Esse arrependimento não é acompanhado da fé salvadora, mas é uma reação humana diante do castigo pelo pecado. Um exemplo desse tipo de arrependimento é aquele demonstrado por Esaú (Gênesis 27:30-46). Em nenhum momento Esaú se arrependeu verdadeiramente de seu pecado. Ele apenas lamentou as perdas causadas por ele (Hebreus 12:17). Outro que demonstrou esse tipo de arrependimento vazio foi Judas Iscariotes (Mateus 27:3-5).
O segundo tipo de arrependimento é chamado de contrição. Esse é o arrependimento verdadeiro que expressa um profundo sentimento de contrição diante do reconhecimento da pecaminosidade humana (Salmo 51:3-5). Esse arrependimento não apenas reconhece o pecado e se afasta dele. Ele também implica num movimento contrário ao pecado, inclinando-se na direção correta, voltando-se para Deus.
O verdadeiro arrependimento pode ser percebido nas palavras do rei Davi, quando ele pediu: “
Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmo 51:10). Esse tipo de arrependimento só pode existir num espírito quebrantado, num coração compungido e contrito, e certamente Deus não o desprezará (Salmo 51:17; cf. 1 João 1:9). Ele pode ser entendimento como um dom de Deus resultante da regeneração.