O que significa Heresia?
Heresia significa literalmente “
escolha” e vem do termo grego hairesis, mas devido à forma com que ela é aplicada no âmbito religioso, muitas pessoas passaram a ter dúvidas quanto ao significado da palavra heresia. Neste texto, veremos o que é heresia e como essa palavra é aplicada na Bíblia.
O significado de heresia no Antigo TestamentoComo dissemos, heresia vem de um termo grego e significa originalmente “escolha”. Na Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento (LXX), ela é sempre utilizada nesse sentido, ou seja, no significado original da palavra, sem qualquer conotação pejorativa.
O significado de heresia no Novo TestamentoNo Novo Testamento encontramos muitas vezes o uso da palavra heresia, porém aplicado em contextos diferentes. Assim, derivado do significado original, “escolha”, a palavra heresia passou a designar alguns conceitos mais específicos.
De modo geral, todas as aplicações da palavra heresia no Novo Testamento têm em comum o sentido que denota “
partido” ou “sectarismo”.
Em Atos dos Apóstolos, por exemplo, a palavra heresia é utilizada para se referir aos saduceus (At 5:17), aos fariseus (At 15:5; 26:5) e até aos cristãos (At 24:5,14; 28:22). Nestes exemplos, a palavra heresia está sendo utilizada para designar um modo de pensar sustentado por um grupo religioso.
Em 1 Coríntios 11:19, o
apóstolo Paulo aplica a palavra heresia para se referir a partidos que apareceram no meio da Igreja, ocasionando divergências devido a um ponto de vista diferente e gerando divisões. Esse tipo de comportamento foi reputado pelo apóstolo em Gálatas 5:20 como uma obra da carne.
Escrevendo a Tito, Paulo faz uma advertência sobre esse tipo de pessoa que fomenta tais divisões dentro da Igreja, dizendo que se depois de admoestada duas vezes a pessoa ainda continuar com tal comportamento, essa pessoa deve ser evitada pois é perversa e, “
perseverando no seu pecado, se condena a si próprio” (Tt 3:10).
O apóstolo Pedro, em sua segunda epístola, aplica a palavra heresia para se referir a um desvio da doutrina do verdadeiro Evangelho, ou seja, onde ocorre a negação das verdades bíblicas reveladas (2Pe 2:10).
As principais heresias na Igreja PrimitivaConsiderando a aplicação da palavra heresia no sentido de desvio doutrinário, ao longo da História a Igreja sempre precisou lutar contra as heresias que surgiam para tentar perverter as Escrituras. Na época da Igreja Primitiva graves heresias doutrinárias precisaram ser combatidas, e aqueles que as ensinavam foram identificados como falsos profetas.
Nas epístolas escritas pelos apóstolos, podemos perceber os grupos que precisavam ser combatidos. Na Epístola aos Romanos e na Epístola aos Gálatas, Paulo refutou as praticas judaizantes que tentavam misturar práticas judaicas e a conservação da Lei com a fé em Cristo.
O docetismo e gnosticismo também foram fortemente combatidos na Igreja Primitiva pelos apóstolos. A Epístola aos Colossenses, e as epístolas escritas pelo apóstolo João, claramente denunciam os graves erros de grupos que ensinavam a negação da encarnação de Cristo, afirmando que a aparição de Cristo em carne era apenas semelhante a uma visão. O combate a esse tipo de heresia pode facilmente ser identificado em 1 João 4:2,3 e 2 João 7.
Qual a diferença entre erro e heresia?Sabemos que existe muita divergência teológica em vários assuntos, e, diante disto, às vezes os cristãos possuem alguma dificuldade em separar o que é um erro e o que é uma heresia. Uma maneira simples de podermos diferenciar o erro da heresia é conhecendo as doutrinas principais da fé cristã, como:
- 1: A inspiração das Escrituras: a Bíblia é a Palavra de Deus, inerrante e infalível.
- 2: Doutrina da Trindade: há um só Deus que subsiste em três pessoas, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
- 3: Divindade de Jesus Cristo: Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
- 4: Expiação na cruz: a morte de Cristo foi para expiar os pecados de seu povo.
- 5: Ressurreição: a ressurreição de Cristo foi real e literal, ou seja, ele ressuscitou fisicamente.
- 6: Justificação: a justificação se dá exclusivamente pela fé em Jesus, ou seja, não há qualquer influencia de obras e méritos humanos.
- 7: Segunda vinda de Cristo: Cristo voltará para buscar o seu povo e julgará os vivos e os mortos. Aqui se inclui também as verdades bíblicas a respeito da condenação eterna dos ímpios no inferno e a bem-aventurança eterna dos santos no novo céu e nova terra.
Estes são os pontos principais, e qualquer desvio deste padrão que constitui o centro do cristianismo histórico deve ser identificado como uma heresia. As demais coisas são divergências teológicas sobre pontos secundários que não ameaçam os princípios da fé cristã.
Logo, uma doutrina que nega a Trindade, como o unitarianismo, ou que defende a salvação de todas as pessoas, como o universalismo, ou até mesmo que nega a condenação eterna dos ímpios, como o aniquilismo, certamente precisa ser rejeitada e combatida, pois é herética e seus defensores são hereges.
Também devemos ficar atentos à possibilidade de um erro se tornar uma heresia. Por exemplo: os cristãos discordam sobre a manifestação de alguns dons espirituais na atualidade, como por exemplo, o falar em outras línguas.
Uns se posicionam contra, outros se posicionam a favor. Um dos lados está errado, mas é apenas um erro e não uma heresia. Passa a ser uma heresia quando um dos grupos começa a pregar que crer ou não crer no dom de línguas na atualidade é determinante para a salvação de alguém.